quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Feirantes iniciam greve de fome

JORNAL O TEMPO

GABRIELA SALES                                                            Publicado no Jornal OTEMPO em 10/02/2011


Manifestação reuniu cerca de 200 artesãos, ontem, em frente à sede da prefeitura

A novela sobre o futuro da feira de artesanato da avenida Afonso Pena, conhecida como Feira Hippie, está longe do fim. Ontem, cerca de 200 expositores realizaram uma manifestação em frente à sede da Prefeitura de Belo Horizonte, com o objetivo de reivindicar a anulação do edital publicado pelo Executivo que determina uma nova seleção para as 2.292 vagas no local.
Reivindicação. Expositores da feira de artesanato questionam os critérios adotados pela prefeitura para a nova seleção de vagas



Com a negativa do prefeito Marcio Lacerda em receber os feirantes, três representantes da Associação dos Expositores da Feira de Artesanato da Afonso Pena (Asseap) anunciaram greve de fome por tempo indeterminado. "Queremos ser ouvidos e articular uma forma mais justa para que essa seleção possa transcorrer", disse Gilberto Assis, um dos diretores que aderiram ao protesto.

Para o presidente da Asseap, Alan Vinícius, o edital desqualifica artesãos e coloca em risco a garantia de trabalho para eles. "Temos expositores com 40 anos de profissão. Não podemos deixar que essas pessoas simplesmente fiquem sem emprego ou sem a sua única fonte de renda", declarou.

Os feirantes questionam os critérios estabelecidos pelo edital, que prevê a análise de escolaridade e condição socioeconômica dos candidatos, além da verificação do processo de produção dos artigos comercializados na feira.

"Não sabemos como será a pontuação e qual será a renda máxima estabelecida. Qual será o nível de escolaridade necessária? São questões que deveriam ter sido discutidas em uma comissão, com representantes dos expositores e da prefeitura. Isso jamais foi respeitado", criticou Vinícius.

Recolocação.Durante a manifestação de ontem, os feirantes criticaram as declarações do prefeito Marcio Lacerda, que propôs a transferência dos expositores desclassificados para shoppings populares. "Vendemos arte e, não, quinquilharias. É um absurdo ele querer nos colocar nesses espaços", afirmou o presidente da Asseap.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte alegou que os feirantes não manifestaram oficialmente o desejo de serem recebidos por Lacerda, ontem. Ainda de acordo com a assessoria, o edital irá transcorrer sem alterações.

Até a tarde de ontem, 5.688 artesãos já haviam realizado a matrícula no processo seletivo. As inscrições serão encerradas na próxima segunda-feira, dia 14.





Comissão
Câmara vai intermediar diálogo com o Executivo
A Câmara Municipal promete criar, em cinco dias, uma comissão especial para tratar da Feira Hippie. A medida é resultado de um acordo entre os expositores e os vereadores, que realizaram, ontem, uma audiência pública para discutir o edital. Segundo o vereador João da Locadora (PT), a comissão terá a função de abrir um canal de diálogo com o Executivo. "Vamos tentar articular o que for melhor para os expositores e para a cidade", declarou.

O presidente da Associação dos Expositores da Feira de Artesanato da Afonso Pena (Asseap), Alan Vinícius, está otimista. "Vamos tentar de todas as formas que esse edital seja revisto", disse. A Assembleia Legislativa também formou uma comissão para debater o assunto. (GS)


Após décadas de trabalho, expositores temem o futuro
Há 39 anos, o artesão Eustáquio Luiz de Oliveira, 56, trabalha com a venda de calçados femininos na Feira Hippie. Ainda adolescente, ele aprendeu o ofício de ornamentar sandálias com pedras minerais. Após tantos anos, ele ainda guarda com carinho as boas lembranças do local de trabalho. "Na feira, eu estudei, casei e criei meu filhos. Também fiz muitas amizades e clientes fiéis. O que será de nós, agora, com essa mudança?", indaga o expositor.

A angústia também é sentida pela artesã Neuza Resende, 75, que há 40 anos comercializa pedras minerais em forma de bijuterias. "Eu colocava meus trabalhos no chão quando a feira ainda era realizada na praça da Liberdade. Criei e formei meus filhos trabalhando todos os domingos, debaixo de sol e chuva. Aprendi até a falar inglês e francês. Não sei mais viver sem a Feira Hippie", disse, emocionada. (GS)



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